Apaguei a luz. Estavas ali, bem junto a mim. As tuas mãos eram as mesmas, fortes e grandes. Os teus dedos continuavam compridos mas suaves. A tua respiração estava, como sempre, ofegante. A tua boca colada ao meu pescoço, sabendo perfeitamente que estava a criar o arrepio habitual. O teu coração, sem excepção, batia a mil à hora. A tua barriga pregada à minha mão. As tuas pernas entrelaçadas. Os teus pés enrolavam-se nos meus, procurando esquecer o frio que os envolvia. Os teus dedos dos pés enroscados uns nos outros, tentando apagar a solidão que os perseguia. Os teus pensamentos envolviam o escuro, não deixavam o sono aparecer, eram como uma prisão. E eu? Eu deixava-me levar pelo escuro, pelas mãos, pelos dedos, pela respiração, pela boca, pela barriga, pelas pernas, pelos pés, pelos dedos dos pés e ainda pelos pensamentos. Não resistia, não lutava, deixava-me ir… Até ao ponto em que acendi a luz e tu já não estavas lá. Tinhas sido vencido pela prisão de pensamentos que te obrigava a ir, que não te permitia ficar. Agora? Agora, quando apago a luz, já nem no escuro apareces.
N.Vieira