sábado, 29 de setembro de 2012

o que não foi dito


Falava mas não dizia nada. Falava com todos menos com quem tinha de falar. Talvez por medo, ou por cobardia. A verdade é que permanecia na sua bolha. Inconscientemente, ou não, ficava lá. Podia pensar em formas de sair, mas sempre que estava prestes a fazê-lo arrependia-se. Apagava a mensagem que estava a escrever ou carregava no botão vermelho do telemóvel que impedia de fazer a ligação. Na altura não teve coragem para dizer nada. Porquê agora? Não encontrava a resposta. Mas continuava a achar que mais dia menos dia ia dizer algo, ia justificar a atitude. Porque foi o mais forte que alguma vez sentiu, porque foi o mais que alguma vez sofreu.

N.Vieira


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

claquette, câmara, acção

Um dois três quatro. O ritmo aumenta. Vozes. Tambores. Acordes. Um dois três quatro. Começou a horas. Não perdeu nem um minuto. Era o timming perfeito. Um dois três quatro. Parou para respirar. Passou a mão pelo cabelo. Desceu até aos pés. Um dois três quatro. Pegou em si. Levou-se até ao local certo. Deixou-se ficar. Um dois três quatro. Calou-se. Ouviu. Falou. Um dois três quatro. Finalmente tinha chegado à hora. Claquette. Câmara. Acção!

N.Vieira

domingo, 9 de setembro de 2012

reencontro indeciso


Torceu os dedos. Fechou os olhos. Começou a pensar. Quem era? O que fazia ali, naquele momento? Por momentos perdeu-se. Por momentos assustou-se. (In)felizmente rapidamente se encontrou. Afinal de contas nunca se tinha perdido. Tinha apenas feito um desvio na sua vida. Às vezes gostava de fazer estes desvios para se voltar a encontrar. O objectivo era reencontrar o sentido que tanto procurava. Passava tempo demasiado a procurar o sentido que às vezes se esquecia de viver. Por isso mesmo, tinha de se perder. Era um ciclo sem fim. Ora se perdia, ora reencontrava à procura do sentido. Mas no final do dia sentia-se sempre igual: uma eterna criança à procura de algo.

N. Vieira