segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Preto/Branco

Preto. Estava quebrado. O vidro do seu telhado tinha sido partido. Já há muito que assim estava. Preto. Perdia a noção das coisas. Pensava que era desta que ia conseguir. Fazia novos amigos. Passava por novas experiências. Preto. Deixavam-no por algo maior. Voltava ao telhado de vidro. (Re)via o que se passou. A fragilidade apoderava-se de si. Preto. Foi ao fundo. Ligou e.. Preto. Houve quem ajudasse. A mão foi-lhe dada. Branco. Voltou ao que sempre devia ter sido. Pegou na luz. Agarrou-a para a vida. Branco. Era só o começo. Branco...

N.Vieira

domingo, 9 de dezembro de 2012

nova mensagem

"Nova mensagem". Cada vez que o aviso aparecia no seu ecrã o coração pulava. Abria. Lia. Ficava um breve momento a contemplar o seu conteúdo. Muito cuidadosamente escrevia a resposta, tal como muito cuidadosamente cuidava de si. As palavras eram escolhidas a dedo, tal como aquilo que dizia o era. As emoções eram controladas o máximo possível, tal como tentava fazer com os sentimentos. Não passavam de cinquenta caracteres. Mas eram cinquenta caracteres que apelavam a algo muito maior, a algo que a transcendia. Sem dar conta tinha a resposta escrita. Escolher contacto. Enviar. "Mensagem entregue". 

N.Vieira

sábado, 8 de dezembro de 2012

o odor

Plena madrugada. O sono ainda nem ia a meio. Acorda. Sente a falta de algo. Um desconforto constante que não consegue suportar. Vira-se para o outro lado. Um, dois, três segundos depois percebeu. O seu cheiro estava lá. Por mais voltas que desse na cama aquele odor ganhava sempre. Não lhe conseguia vencer, nem por cansaço. Queria fechar os olhos e ser transportada por aquele perfume a horas passadas. Adormecer agarrada a si. Acordar grudada nele. Não precisava de mais nada. Apenas precisava do odor e da pessoa. O resto vinha por acréscimo. 

N.Vieira

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

intensamente

Agarrou-a por um braço. Puxou-a para bem junto de si. Disse-lhe que era tudo dela. Bastava apenas um piscar de olhos, um aceno assertivo da sua cabeça, um sinal que valesse a pena. Não queria esperar mais. Achava que aquela era a altura ideal para ela ser sua. Não queria saber de clichés ou de noites comuns. Queria aquilo de especial a que tinha direito. Pensava em tornar o seu mundo o dela. Tentava fazê-la ver que ela também o queria. Estava à espera que ela pusesse o seu medo e a sua seriedade de lado. Esperava que ela começasse a viver... intensamente.

N.Vieira