"Posso entrar?". Foi esta a pergunta que antecedeu o seu toque na porta. Mesmo antes de ouvir a resposta decidiu entrar. Pôs um pé dentro da sala e ainda mais rápido decidiu pôr o segundo. Ela nem teve tempo de reagir, quando deu por si ele já lá estava. "Este sou eu", disse ele prontamente. O primeiro pensamento que passou na cabeça dela foi "mas que raio faz esta pessoa aqui?". Não obteve a resposta tão rapidamente como queria. Ele pôs-se ali, diante dela e começou a descrever um filme, a contar uma história. Começou pelo momento em que se conheciam, em que ficavam perdidamente apaixonados e dependentes um do outro. Passou pelas fases das zangas, das discussões, das reconciliações e das ternuras. Mas esqueceu-se de referir os seus defeitos, talvez por mero acaso ou por pura intenção. Terminou com o clímax da história onde por mais que se amavam não conseguiam suportar a presença um do outro. Chegou à parte final onde ambos admitiam que mesmo gostando um do outro, gostar não chega. "E agora, queres ou não?", sem rodeios perguntou-lhe. Deitou-lhe as cartas na mesa e esperava o sim ou o não. Ela não acreditava na sinceridade e na previsão do seu futuro juntos. Custava-lhe a acreditar mas tinha de aceitar o seu destino. Abriu os olhos e... Não, ele não tinha feito a previsão. A sua imaginação dizia-lhe que tudo era mais fácil se ele assim o tivesse feito. Já sabia o que esperar ou não esperar. Evitava a desilusão. Antes ele o tivesse feito.
N.Vieira