segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Preto/Branco

Preto. Estava quebrado. O vidro do seu telhado tinha sido partido. Já há muito que assim estava. Preto. Perdia a noção das coisas. Pensava que era desta que ia conseguir. Fazia novos amigos. Passava por novas experiências. Preto. Deixavam-no por algo maior. Voltava ao telhado de vidro. (Re)via o que se passou. A fragilidade apoderava-se de si. Preto. Foi ao fundo. Ligou e.. Preto. Houve quem ajudasse. A mão foi-lhe dada. Branco. Voltou ao que sempre devia ter sido. Pegou na luz. Agarrou-a para a vida. Branco. Era só o começo. Branco...

N.Vieira

domingo, 9 de dezembro de 2012

nova mensagem

"Nova mensagem". Cada vez que o aviso aparecia no seu ecrã o coração pulava. Abria. Lia. Ficava um breve momento a contemplar o seu conteúdo. Muito cuidadosamente escrevia a resposta, tal como muito cuidadosamente cuidava de si. As palavras eram escolhidas a dedo, tal como aquilo que dizia o era. As emoções eram controladas o máximo possível, tal como tentava fazer com os sentimentos. Não passavam de cinquenta caracteres. Mas eram cinquenta caracteres que apelavam a algo muito maior, a algo que a transcendia. Sem dar conta tinha a resposta escrita. Escolher contacto. Enviar. "Mensagem entregue". 

N.Vieira

sábado, 8 de dezembro de 2012

o odor

Plena madrugada. O sono ainda nem ia a meio. Acorda. Sente a falta de algo. Um desconforto constante que não consegue suportar. Vira-se para o outro lado. Um, dois, três segundos depois percebeu. O seu cheiro estava lá. Por mais voltas que desse na cama aquele odor ganhava sempre. Não lhe conseguia vencer, nem por cansaço. Queria fechar os olhos e ser transportada por aquele perfume a horas passadas. Adormecer agarrada a si. Acordar grudada nele. Não precisava de mais nada. Apenas precisava do odor e da pessoa. O resto vinha por acréscimo. 

N.Vieira

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

intensamente

Agarrou-a por um braço. Puxou-a para bem junto de si. Disse-lhe que era tudo dela. Bastava apenas um piscar de olhos, um aceno assertivo da sua cabeça, um sinal que valesse a pena. Não queria esperar mais. Achava que aquela era a altura ideal para ela ser sua. Não queria saber de clichés ou de noites comuns. Queria aquilo de especial a que tinha direito. Pensava em tornar o seu mundo o dela. Tentava fazê-la ver que ela também o queria. Estava à espera que ela pusesse o seu medo e a sua seriedade de lado. Esperava que ela começasse a viver... intensamente.

N.Vieira

terça-feira, 23 de outubro de 2012

inspirar/expirar

Tinha o peito cheio de ar.  Cada dia enchia mais. E cada dia ia ficando com menos espaço. Quis deitar tudo fora. Puxou com toda a força. Inspirou contra todas as regras. E depois expirou. Foi contra as expectativas e o ar continuava lá dentro. O alívio era breve. Mas não chegava. Não encontrou a solução ideal. Prometeu a si mesma inspirar e expirar todos os dias. Até que o ar velho saísse e o novo entrasse.

N.Vieira

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

o seu quê de especial

Lábios vermelhos. Unhas encarnadas. Vestido justo. Saltos altos. Mala pequena. Era assim que pensava em si quando se comparava com uma "menina de rua". Fazia-no por breves cinco minutos. Era esse o tempo que se conseguia imaginar na pele dessa personagem. Não o conseguia imaginar por mais tempo. Não por medo, ou por desrespeito. Mas sim porque sabia que não o era. Pensava antes em si como algo simples, normal, mas com o seu quê de especial. Nem ela própria sabia que coisa especial era essa. Acreditava que o tinha porque afinal de contas toda a gente o tem. Todos têm o seu quê de especial que os torna únicos. Alguns têm-no mais visível, outros mais escondido. Há quem goste de o ostentar, e há que tenha medo de o fazer. Até mesmo a "menina de rua" o tem, basta tirar o vestido, o bâton  os saltos e procurar, não na pequena mala, mas naquela grande que reina dentro de si. 

N.Vieira

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

talvez sim, talvez não

Pegou no telemóvel. Escreveu a mensagem. Disse o que sentia, ou o que achava sentir. Deixou crescer algo que não sabia que estava a crescer. Trocou as suas voltas sem dar por isso. Pôs os pés no chão. Tentou assentá-los. Ainda achou que era cedo. Enviou outra mensagem. Deixou a coisa crescer mais um pouco. Não se mediram palavras ou sentimentos. Tudo era sentido a triplicar. A imensidade daquilo era impossível de medir. Mas acabou por assentar os pés. Voltou atrás com a sua palavra. Fingiu apagar o que tinha dito e foi directa ao assunto. "Talvez sim, talvez não... nem sei". Porque é isso mesmo, não tão simples como parece.

N.Vieira

sábado, 29 de setembro de 2012

o que não foi dito


Falava mas não dizia nada. Falava com todos menos com quem tinha de falar. Talvez por medo, ou por cobardia. A verdade é que permanecia na sua bolha. Inconscientemente, ou não, ficava lá. Podia pensar em formas de sair, mas sempre que estava prestes a fazê-lo arrependia-se. Apagava a mensagem que estava a escrever ou carregava no botão vermelho do telemóvel que impedia de fazer a ligação. Na altura não teve coragem para dizer nada. Porquê agora? Não encontrava a resposta. Mas continuava a achar que mais dia menos dia ia dizer algo, ia justificar a atitude. Porque foi o mais forte que alguma vez sentiu, porque foi o mais que alguma vez sofreu.

N.Vieira


quarta-feira, 19 de setembro de 2012

claquette, câmara, acção

Um dois três quatro. O ritmo aumenta. Vozes. Tambores. Acordes. Um dois três quatro. Começou a horas. Não perdeu nem um minuto. Era o timming perfeito. Um dois três quatro. Parou para respirar. Passou a mão pelo cabelo. Desceu até aos pés. Um dois três quatro. Pegou em si. Levou-se até ao local certo. Deixou-se ficar. Um dois três quatro. Calou-se. Ouviu. Falou. Um dois três quatro. Finalmente tinha chegado à hora. Claquette. Câmara. Acção!

N.Vieira

domingo, 9 de setembro de 2012

reencontro indeciso


Torceu os dedos. Fechou os olhos. Começou a pensar. Quem era? O que fazia ali, naquele momento? Por momentos perdeu-se. Por momentos assustou-se. (In)felizmente rapidamente se encontrou. Afinal de contas nunca se tinha perdido. Tinha apenas feito um desvio na sua vida. Às vezes gostava de fazer estes desvios para se voltar a encontrar. O objectivo era reencontrar o sentido que tanto procurava. Passava tempo demasiado a procurar o sentido que às vezes se esquecia de viver. Por isso mesmo, tinha de se perder. Era um ciclo sem fim. Ora se perdia, ora reencontrava à procura do sentido. Mas no final do dia sentia-se sempre igual: uma eterna criança à procura de algo.

N. Vieira

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

mês e meio

Um mês e meio. Parecia uma vida. Porquê? Porque nunca aprendeu como naquele tempo. O contraste rodeou-a durante dias, semanas. Adaptou-se à pobreza feliz. Habituou-se a pessoas do mundo. Criou a sua própria rotina. E quando se ambientou teve de partir. Mas não partiu em vão. Levou consigo pessoas, lugares, momentos. Era o início de uma nova viagem. Foi sozinha e certamente o voltará a fazer. Agora é hora de desarrumar as malas. Pelo menos por uns dias. Depois vai voltar a fazê-as. Mas, desta vez,  para bem mais perto. 

N.Vieira

sábado, 14 de julho de 2012

partiu

"Não, não e não", gritou desalmadamente como se a sua vida fosse acabar naquele pequeno instante. Mudava-se de malas e bagagens para uma nova morada. A volta era indefinida. Queria estar lá longe. Aquelas eram as suas férias do mundo. Só levava a roupa que tinha no corpo. O resto ia-se compondo lentamente. Pegou nas suas chaves. Agarrou em si e bateu a porta. Algo tinha mudado. Não eram os outros. Não era o mundo. Era ela. 

N.Vieira

terça-feira, 19 de junho de 2012

apática

Pulou duas vezes. Riu-se uma. Normalmente quando estava nervosa fazia-no vezes sem conta. Hoje estava-o demais. Porquê? Nem ela sabia bem. Acordou com o um nó. Durante o almoço não o desatou. No jantar já era tarde, o nó tinha-se torcido e nada descia pela garganta até ao estômago. Tentou vomitar mas já nem isso conseguia. Deitou-se, fechou os olhos e dormiu. Quando acordou o nó tinha desaparecido. Mas com o nó foram mais coisas. Indecisões, medos, nervosismo, gritos, sorrisos, sentimentos, amor, felicidade, tudo. Ficou apática.

N.Vieira

segunda-feira, 18 de junho de 2012

a(s) pergunta(s)

"Achas que sou má pessoa é?", perguntou. Já estava farto das suas suposições precipitadas. Esta era a primeira vez que lhe perguntava directamente, mas no fundo já tinha ouvido esta questão vezes demais no seu interior. Não se tratava de ser má pessoa ou não, até porque na realidade não o era. Tratava-se de ser uma pessoa diferente, especial. Partilhava de uma atitude oposta à sua. Não queriam coisas semelhantes há algum tempo. Já não precisava de se questionar sobre o que faltava. Ontem enquanto lavava a loiça fez-se luz. Tinha medo daquilo que podia fazer para estragar aquilo que tinham. Tinha receio de que um acto tão vulgar pudesse mudar o rumo à coisa. Ele sim sentia-se a má pessoa. Porque não falava, porque guardava as coisas no bolso das jeans apertadas e só as tirava quando fosse extremamente necessário. Mas tinha de responder. Não por si, por ela. "Não, aqui não há más pessoas... há pessoas diferentes, que têm opiniões opostas e medos distintos". Sentiu-se indefeso. Recordou a indefesa de um passado próximo. Pegou no casaco, passou a mão pelo cabelo, beijou-lhe a testa e saiu. Hoje já não havia nada por dizer. Quem sabe amanhã... Dizem que as manhãs trazem sempre palavras novas.

N.Vieira

sábado, 16 de junho de 2012

o copo

Auuu. O copo partiu-se. Tinha-o na mão. Agarrava-o levemente... Quando deu por si já estava no chão. Mil e um pedaços. E agora? Como os ia apanhar? Estava rodeada de pedacinhos pequeninos que pareciam impedir a sua movimentação. Mas, num segundo olhar, percebeu que se tentasse era possível. Contornou cada pedaço do vidro partido. Ainda pisou um pedacinho solto que por ali andava. Auuu. Continuou. Ficar parada ia aumentar a dor e piorar a situação. Pegou na vassoura e na pá. Apanhou cada pedaço com delicadeza. Terminou. Respirou fundo. 

N.Vieira

sexta-feira, 15 de junho de 2012

o bafo mais longo

Mordeu o lábio. Acendeu um cigarro. Deu o bafo mais longo dos últimos tempos. Fazia-no quando negava se passar algo. Fazia-no como acto de frustração para com ele. Não queria olhar para si. Custava cada vez que imaginava a distância. Sempre se fez de forte, dizia que aguentava tudo. Mas, naquele momento, o seu muro de Berlim quebrava. Mostrava a sua vulnerabilidade. Culpava-se por isso. Nunca foi "o" peso, e não era agora que o iria ser. Cinco breves minutos de si. Chegaram ao fim. Ergueu o muro, apanhou os pedaços e voltou a po-lo no lugar. Deu o último bafo no cigarro, igualmente longo ao primeiro. Voltou-se para ele e sorriu. "O quê? Não se passa nada. Estou bem, como sempre...".

N.Vieira

segunda-feira, 11 de junho de 2012

agarra-me

Agarra o meu corpo. Leva-o o para longe. Toca-lhe como se nunca tivesses tocado nada no mundo. Beija as minhas mãos. Agora pousa-as como pousas um copo de cristal. Pisa os meus pés como pisaste o chão da primeira vez, com delicadeza e sofisticação. Mas não os pises a medo. Encosta-te ao meu ombro como te encostaste no ombro da tua mãe quando te partiram o coração. Relembra o que tens a relembrar mas depois volta aqui, a este momento. Deslumbra a minha boca como o primeiro dia em que deslumbraste o corpo de uma mulher. Fixa este momento. Não o percas. Volta a agarrar-me. Volta sentir, mas agora rápido e devagar ao mesmo tempo. Volta a levar-me daqui. 

N.Vieira

domingo, 10 de junho de 2012

madrugada

Eram cinco e meia da manhã. E ele ainda não tinha chegado. Mil e uma questões se levantavam. Várias dúvidas surgiam ao mesmo tempo. Não queria dramas. Nunca os aguentou, principalmente agora. Tinha-se dado. Revelou-se para aquele mundo. Não pensou duas vezes. Mas quando chegavam os atritos o gelo derretia. Ficava a descoberto o que escondia com unhas e dentes. A vulnerabilidade falava mais alto. Gritou. O acto pareceu-lhe o mais indicado. Libertou-se por uns segundos. Decidiu finalmente fechar os olhos. Só os ia abrir amanhã. Adormeceu.

N.Vieira

sábado, 26 de maio de 2012

How he met Lisbon

"WE meet the places we wind up loving much the way we meet the people we fall for: on purpose and accidentally; at precisely the right moment and exactly the wrong time; in the highest of spirits and the lowest of moods" Frank Bruni, in  The New York Times

quarta-feira, 23 de maio de 2012

de que lhe valia?

Trocava-se no seu tempo. Pensava naquilo que tinha vindo mas que já tinha ido. Não o lamentava. Simplesmente lhe fazia bem reviver aquilo. Porquê? Para se sentir mais capaz, mais resistente. Ninguém ia fazer por si aquilo que só lhe cabia a si fazer. Podia não ser rápido, fácil ou indolor. O importante era durar. Pelo menos para si, para aquele seu tempo pessoal. Apesar de se trocar, não se enganava. Ou pelo menos queria acreditar que sim. De que lhe valia a sua palavra? No fim do dia a questão era sempre a mesma.

N.Vieira

por breves duas horas

Deu dois toques na porta. Antigamente era assim que fazia para se dar a conhecer. O duplo toque antecipava a sua chegada. Entrou, tirou os sapatos e sentou-se. Olhou para si, de uma forma mais crua do que nunca. Não a assustou. Estava farta de saber que os seus ataques de fúria eram constantes, que o seu (hu)amor era difícil. Sentou-se a seu lado. Abraçou-o no silêncio mais sincero das suas palavras. Não esperava nada em troca, como sempre. Posou a mão em cima de si. Estava ali o acto de reconhecimento. Não precisava de mais nada. Prolongou aquele momento por breves duas horas. Se fechar os olhos, ainda hoje está lá. De mãos pousadas uma em cima da outra. Por breves duas horas.

N.Vieira

segunda-feira, 21 de maio de 2012

as escadas subidas

E assim, quase sem dar por isso, as escadas tinham sido subidas. Os degraus que ao inicio pareciam enormes, não passaram de um contratempo. Aquilo que parecia inatingível, foi atingido. Os risos que estavam perdidos foram encontrados. As palavras encontraram o seu caminho. O pensamento já não estava perdido. Porque a lua se tinha reconciliado com o sol. Porque as estrelas resolveram aceitar a oportunidade. E, quando deram por isso, já não estavam sozinhas. Tinham ali, mesmo ali, tudo aquilo que precisavam.

N.Vieira

segunda-feira, 7 de maio de 2012

cinco dedos

Um dedo. Dois dedos. Três dedos. Quatro dedos. Cinco dedos fechados, apertados. Representavam uma frustração. Falavam de um alguém. Agarravam outros cinco dedos, não meus. Enrolavam-se na ânsia de sentir o que não se devia. Cruzavam-se com a mistura sentimental momentânea. Gritavam por um apreço. Beijavam-se uns aos outros. Cravavam-se em si mesmos. Pisavam a mão que não lhes pertenciam. No fim soltaram-se, libertaram-se. Não voltaram à estaca zero, escolheram a estaca superior, aquela que lhes abria outro mundo. Até agora continuam lá.

N.Vieira

terça-feira, 24 de abril de 2012

timming

Começa, naturalmente. Como de outra forma qualquer as coisas desenrolam-se. E, como de outra forma qualquer, corre tudo bem, é tudo perfeito. Mas nem tudo é assim tão fácil. Quando as coisas parecem bem, não o estão. É assim nos filmes, nos livros, na vida. Baseia-se nos desencontros, na vivência diferente das coisas. Acho que é o chamado timming. Às vezes quando mais se quer algo, menos se pode ter. Depois, quando menos se está à espera, tudo se torna possível. Mas, será que quando a possibilidade aparece as coisas são iguais ao que eram? Muito se passou, muito se viveu, muito se cresceu, muito se mudou. Não se diz respeito à sinceridade ou à validade do sentimento. Diz respeito ao timming. Foi ele. Veio no tempo errado. Não acertou. Mas veio e isso sim é o imporante. Agora só se trata de saber lidar com ele. Eles souberam, pelo menos foi o que filme me disse.

N.Vieira

quinta-feira, 19 de abril de 2012

o grito

Gritou. Este não era um grito de alivio. Este não era um grito de desespero. Era um grito verdadeiro. Um grito de frustração. O acto de gritar não lhe era comum. Mas, naquela hora, tinha de o fazer. O acto de gritar libertava aquilo que o corpo escondia. A liberdade era finalmente sentida, vivida. O corpo continha aquilo há demasiados meses, semanas, dias, horas, minutos, segundos. O grito não vinha por desespero, sublinho. O grito vinha porque assim tinha de ser. E não se pode ignorar um grito. Venha ele de onde vier. 

N.Vieira

quarta-feira, 18 de abril de 2012

à sua normalidade

Chovia. Não tinha parado de chover. Já eram dois dias inteiros disto. As ruas eram lavadas. As estradas eram lavadas. Mas, mais importante, as almas eram lavadas. Cada gota que chegava trazia algo. Cada gota que caía fazia algo. As pessoas pensavam mais, questionavam-se mais. Talvez sentissem falta do sol. A verdade é que a chuva transformava o humor de qualquer ser humano. A chuva afastava a comédia e apelava mais ao drama. Mais uma vez, talvez fosse a saudade do sol. Até que parou de chover. As ruas voltaram ao estado normal. As estradas voltaram à sua realidade. E as almas voltaram àquilo que eram. Até que se percebeu: é e sempre será assim, no fim volta tudo à sua normalidade.

N.Vieira

sábado, 14 de abril de 2012

no seu mar

Estalou os dedos. Quando abriu os olhos estava coberta de mar. Deixou-se ficar. As ondas vinham e iam. Traziam areia e outros sedimentos. Não se importava. Cada onda que vinha trazia algo de novo. Refrescava. Desvendava. Descobria. Gostava. Quatro verbos aplicados à sua realidade, pelo menos à realidade daquele momento. Ficou ali. 1 hora. 2 horas. 3 horas. O tempo passou, mas não por si. Quando decidiu estalar os dedos não conseguia. Estava presa àquela realidade. Por breves momentos entrou em pânico. Mas, rapidamente, o pânico passou. Veio sim a surpresa. A surpresa de ter tido sorte, de estar no seu mar.

N.Vieira

segunda-feira, 9 de abril de 2012

três toques

Triiiiim. Triiiim. Triiiim. À terceira foi de vez. Decidiu atender. "Sim, como estás?". Uma resposta demorada, receosa foi dada por fim. "Podia estar melhor". Não valia a pena estar ali com rodeios. Já tinha sido, já tinha acontecido. Nada podia ser feito. O voto de confiança já tinha sido dado. E, por agora, mantinha-se. Mas, desta vez estava mais forte. Tinha crescido, enfrentado coisas piores. Desligou. Deitou-se por breves dez minutos. Levantou-se. Jantou. Conviveu. Voltou à normalidade. Diziam que estava diferente. Agora viu-se. Por fim, cresceu. 

N.Vieira

quinta-feira, 5 de abril de 2012

o seu silêncio

Shiuu. Dizia para si mesmo. Queria ouvir o nada, sentir o silêncio. Desde que tinha saído do seu casulo gostava de contemplar o silêncio, principalmente aquele. Tinha posto de lado o barulho ensurdecedor que o impedia de agir. Ficava ali sentado, parado. Só depois agia, mas agora sem medos, sem inseguranças. A atmosfera da casa tinha-se tornado mais acolhedora, mais sua. Precisava daqueles seus momentos. Quando se levantava tudo lhe parecia mais simples, menos confuso. A questão era essa: tinha aprendido a conviver consigo e com o seu silêncio. A surdez tinha tornado real um mundo que antes achava ser só possível nos sonhos. Agora era ele e o seu silêncio. Agora era mais feliz. Quem diria, certo?

N.Vieira

quarta-feira, 4 de abril de 2012

a cor

Normalmente, gostava de se encher de cor. Achava que a cor apagava o que era mau, incolor. Não deixava de acreditar que era a cor que a ajudava todos os dias. Enchia o seu dia de cor. Dava cor às pessoas, à música, ao mundo.  Fazia da cor uma constante na sua vida. Mas preocupava-se com o seu excesso. Quando algo existia em demasia podia ser negativo. A cor não podia existir em demasia. Todos os dias a media, pesava e quantificava. No fim de cada dia fazia o balanço final. A cor que tinha sido usada era a ideal. Nem um grão a menos, nem um grão a mais. Tinha a sua cor, não precisava de mais nada. Pelo menos até àquele momento. 

N.Vieira

sexta-feira, 30 de março de 2012

ia nessa

A voz de Monte enchia a sala. O sol entrava pela sua janela favorita. Os seus pés tocavam o chão frio. Já sabia bem refrescar-se no mais gelado. A brisa quente trazia consigo boas andanças. O novo objectivo para além de traçado estava mais perto do que nunca. O país, as pessoas, o trabalho, tudo lhe parecia bem. Restava não se acobardar. Estava na hora de seguir com a sua palavra. Era o tempo de fazer por si e para si. Usualmente, tudo o que era novo lhe metia medo. Mas, desta vez, queria ter medo, precisava de ter medo. Ia arriscar. Ia sair. Ia nessa. 

N.Vieira

domingo, 25 de março de 2012

despida


Punha gentilmente um pé fora do alpendre. Seguidamente, arriscava pôr o outro pé. O resto do corpo vinha por arraste, por acréscimo. A brisa estava mais quente, mais primaveril. Os olhos abriam-se suavemente. Já não sentia o dia assim há tempo. A boca abria-se a saborear o fresco, o novo ar. A pele ia-se arrepiando, tornando-se mais sensível. Abria os braços. Abraçava aquele dia, aquela hora. Despida, ali estava, a contemplar o nada, o tudo. Não queria saber se estava nua. Assim sentia mais, vivia mais. 

N.Vieira

terça-feira, 20 de março de 2012

a não insónia

Duas e vinte e sete. Da manhã. Esta não é uma insónia de preocupação. Não é a falta de sono por medo de algo. Esta é a forma de aproveitar o tudo. A mais verdadeira tentativa de interiorizar o mais ínfimo pormenor. As horas não se querem a correr. Quer-se cada segundo, minuto. Os olhos, que custam a manter acordados, contemplam o plano. Aquele quadro estava a ser guardado na memória. A história estava a ser criada, inventada, mesmo ali. A noite tinha a testemunha. Não era uma madrugada em vão. Era a ânsia de esperar pela manhã. Duas e quarenta e três. Da manhã. A insónia continuava. A felicidade também.

N.Vieira



segunda-feira, 19 de março de 2012

subiu. desceu.

Subiu. Desceu. Decidiu arriscar. Queria pôr o pé fora da argola. Subiu. Desceu. Ainda não tinha a certeza. Continuava a medir demasiado as coisas. Subiu. Desceu. Achava que sim. Não tinha dúvida da sua certeza. Subiu. Desceu. Procurava a eterna resposta. Mesmo sabendo que era quase impossível obtê-la. Subiu. Desceu. Tinha terminado o ciclo anterior. Um novo havia começado. Subiu. Desceu. Mas desta vez ainda não tinha caído. Continuava de pé e firme. Subiu. Mas será que desceu?

N.Vieira

terça-feira, 6 de março de 2012

notas soltas

Três, dois, um. Foram esses os segundos de hesitação. O seu pai sempre disse que não era pessoa de pensar demasiado nas coisas. Queria seguir aquele exemplo. Estava na altura de parar com os "se's". Estava na altura de começar a agir. Não pelos outros ou por aquilo que o mundo lhe exigia. Mas, sim por si. Viajar. Conhecer mais. Viver melhor. Foram os três pontos que escreveu no bloco de notas soltas. Começava amanhã. 

N.Vieira

a cadeira

A cadeira era a mesma. Sempre. Preto, branco. Homem, mulher. Novo, velho. Todos passavam por si. Todos se sentavam. Todos a viam de forma diferente. Para uns era marcante. Para outros não passava de algo momentâneo. No dia em que se fechou ao mundo, partiu-se. Era sempre melhor conhecer mais para saber mais. Afinal de contas não passava de uma cadeira. Simplesmente.

N.Vieira

quinta-feira, 1 de março de 2012

tão simples quanto isso

Cruzava os dedos. Descruzava. Pensava uma vez. Pensava duas vezes. Não sabia como dizer. Mas tinha de o dizer. Já tinha ouvido que nada na vida era fácil. Mas, nunca pensou que isso se aplicasse a si. Voltava a cruzar os dedos. Voltava a descruzá-los. Voltava a pensar uma vez. Voltava a pensar duas vezes. A conclusão era sempre a mesma. Fez o melhor que pôde. Deu o melhor que podia dar. Já não se tratava mais de si. Tratava-se do destino. Tão simples quanto isso.

N.Vieira

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

permite-te

"Censuras-te demasiado", dizia-lhe a mãe.  Não era solução fingir algo que não se sente. Mas tentar apagar era sempre mais fácil. "Porque não te permites sentir o que quer que seja?", questionava a amiga. Infelizmente, ainda não foi inventada a máquina do "não sentir". Estava na sua hora. A única que se censurava era ela própria. Por isso, pára. Permite-te. Não te censures. Afinal de contas, somos todos assim.

N.Vieira

domingo, 26 de fevereiro de 2012

o mistério do cruzar de pernas


Cruzar as pernas já se tinha tornado um hábito seu. Talvez o fizesse para se sentir confortável. Talvez fosse um acto mais sensual. Ou talvez fosse uma acção de puro nervosismo. Gostava pouco de se sentir assim. Parecia que todo o mundo parava a contemplar aquele momento, como se tratasse de uma anormalidade. Mas, naquele instante não queria saber. O desconforto não vinha do cruzar de pernas. Eram demasiadas coisas, demasiadas pessoas. O mundo tinha-se tornado familiar. "E o que mais tem o mundo para oferecer?", era essa a questão que a invadia nos momentos de silêncio interior. Mas, estava bem. Agora sentia-se confortável consigo. O mistério do cruzar de pernas tinha sido desvendado. 

N.Vieira

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

a lua

Estava escuro, mas não tão escuro como antes. As horas tardias prolongavam-se na noite. A lua enchia o quarto. A cama parecia mais confortável do que nunca. O sono estava mais leve. Mas os sonhos eram melhores. Agora a noite não entristecia. A noite voltava ao início. A lua passava a dizer o que dizia inicialmente. O sol já podia entrar na manhã seguinte. A lua permitia a sua (re)entrada. Já não era tempo de estar zangada com o sol. 

N.Vieira

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

flechas

As palavras saíam como flechas. O seu destino estava errado. A sua direcção não era a mais acertada. Mas as flechas não paravam. À medida do tempo iam-se tornando cada vez mais intensas, mais cruéis. Talvez fosse mais fácil dizer a verdade assim. As palavras reflectiam o que no fundo era difícil. As flechas tornavam tudo mais rápido. O tempo era atravessado por lançamentos frios mas verdadeiros. Eram as flechas, e já nada as conseguia evitar.

N.Vieira

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

claridade

Claridade, era essa a palavra. Uma luz que tornava tudo mais nítido. Receio do negro? Já não. Naquele dia, o escuro tinha-se tornado o inimigo. A clareza era a companheira da viagem. Punha-se de lado o colorido em excesso. Procurava-se o branco eterno. Ansiava-se o claro puro. Medo do preto? Já não. Naquela hora, o branco anulava o preto. Tornava-se claro o objectivo. O branco domava a porta. O claro era agora o seu guardador de rebanhos. 

N.Vieira

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

diálogo injusto

"Não sejas injusto", disse ela, enquanto mexia no cabelo comprido e encaracolado. Injustiças ou não. Palavras mal entendidas. Frases mal construídas. Sentimentos trocados. Gritos que saem inesperadamente. Mãos que agarram o que não deve ser agarrado. "Porque é que interpretas tudo mal?", gritou ele, perturbado com a situação e preso a um sentimento que já não era dele. Uma interpretação mal feita. Um sim que é entendido como um não. O dizer que não equivale ao fazer. Olhos que transmitem o contrário. Um andar curvo que devia ser direito. "Injustiça ou não, má interpretação ou não, sinceramente não quero saber", diz ela, voltando naturalmente as costas.

N.Vieira

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

antónimos

Duas pessoas. Dois verdadeiros antónimos. Ela fazia bolos. Ele lia o Guardian. Ela fazia croché. Ele fumava cachimbo. Ela limpava o pó. Ele punha os pés em cima do sofá. Ela vestia Prada. Ele usava shorts. Ela usava usava verniz. Ele roía as unhas. Ela queria um filho. Ele tinha o que precisava, um cão. Ela lia Jane Austen. Ele mergulhava nos amores e dissabores de Nabokov. Ela chorava no escuro. Ele ria ao som de Britcom. Ela não estava bem. Ele não pensava, vivia. Ela queria terminar. Ele queria estar ali. Ela saiu. Ele agarrou no cachimbo e fumou.

N.Vieira

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

mão

Era forte. Queria ajudar. Estava disponível para mudar aquele mundo. Não queria atrapalhar as coisas. Apenas sentia que tinha de ali estar. Não tinha certeza de nada. Queria fazer por algo. Não precisava de falar, de dizer nada. Aliás, não sabia falar, nem o que dizer. Mas continuava decidida. Não ia sair dali. Estava intacta. Não deixava o resto desmoronar-se. Sabia apenas que queria estar ali. E estaria ali o tempo que fosse preciso. Era ela, a mão, e sabia exactamente o que fazer. 

N.Vieira

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"três dias"


"Desaparecer no vento, e acordar num outro instante, nó na imensidão do tempo"

sim, é verdade.

Sim, é verdade. As pessoas erram. Às vezes faz-se o que não se quer. Nem sempre se sabe dizer as coisas acertadas. Mas e depois? O importante não é a sinceridade? O importante é dizer aquilo que realmente é ou aquilo que se diz só porque se tem medo? Sim, é verdade. Não se tem sempre forças. Mas às vezes arranja-se. Quando se quer, faz-se por isso. O importante é ser-se quem é? O importante é mostrar o "eu" ou criar-se um "eu" só para agradar? Sim, é verdade. É difícil. Mas não quer dizer que por isso se tenha de desistir. Não se tem de aceitar nada só porque sim. Tem-se simplesmente de fazer por algo, por aquilo em que se acredita.

N.Vieira

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

vermelho de camelo

Adoro camelo. A forma como se projecta na palavras. A forma prática como que diz "gosto de ti". A forma simples como acalma. A forma como consegue mudar o "nosso" mundo. A forma rápida com que faz com que nos apaixonemos por "si". A forma verdadeira como faz boa música. A forma irregular como transforma o mundo. É tão simples como isto: adoro marcelo. E tal como ele diz: "Eu bem sei onde tudo vai parar, já não tenho medo do mundo, sou filho da eternidade".

N.Vieira

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

fall creek boys choir



"Did you want to find a way, I always saw me love, I will be love befallen, I will lay my teeth, I'll wait for growing, and we both will know. Daring on the peak, telling on the teeth, I've been down to the open road, I'll wait for you"

Blake, James and Iver, Bon

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

era ela

Ouvia Joni Mitchell. Eternizava o caril. Lia Shakespeare. Sonhava com encontros e desencontros. Afogava-se no candeeiro rosa. Roía as unhas. Venerava o Burton. Pisava girassóis. Fechava os olhos perante a lua. Contemplava a noite. Beijava as gotas. Sonhava com a possibilidade. Agarrava a aventura. Comia as palavras. Sentia o chão. Encostava-se ao quente. Tomava atitudes. Fazia o impossível. Era ela. 

N.Vieira

sábado, 28 de janeiro de 2012

Escreve. Apaga.

Escreve. Apaga. Não tem a certeza daquilo que quer dizer. Escreve. Palavras transmitem sentimentos. Palavras falam por si só. Apaga. Não quer dizer. Não se sabe exprimir. Escreve. Frases curtas transmitem sentimentos grandes. Frases simples ditam sentimentos complexos. Apaga. As palavras não medem o tempo. As palavras não chegam. Escreve. Pontos de interrogação seguidos de pontos de exclamação. Reticências reflectem o estado de espírito. Apaga. O papel não segura as palavras. O papel parece transparente. Escreve. Apaga. Escreve. Apaga. E a folha continua em branco.

N.Vieira

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

nada

Um nada que é tudo. Um nada que não é inovador. Um nada que aparece esporadicamente. Um nada que quebra. Um nada que dúvida. Um nada que, por mais que tente, não fica. Um nada que desistiu. Um nada que não sabe. Um nada que já não está. Um nada que ainda transmite. Um nada que ainda derrete. Um nada que ainda fala. Um nada que, apesar de tudo, significa. Mas um nada que fugiu. Um nada que seguiu a sua vontade. Um nada que não pode exigir. Um nada que não passa disso mesmo: de nada.

N.Vieira

domingo, 22 de janeiro de 2012

corta recorta

Corta. Tudo aquilo que fez mal. Recorta. Todas as sensações que foram agressivas. Corta. Os pensamentos mais melancólicos. Recorta. Os medos insignificantes. Corta. As coisas menos boas. Recorta. Aquilo de bom que é oferecido. Corta. Tudo o que destruiu. Recorta. Para construir de novo. Corta. Aquilo que não interessa. Recorta. Tudo o resto que é significante. Corta. Volta à vida. Recorta. Perde-se. Corta. Encontra-se. Recorta.

N.Vieira

sábado, 21 de janeiro de 2012

vida

"Esta é a tua vida. Faz o que queres e bem te apetece, e fá-lo muitas vezes. Se não gostas de algo, muda-o. Se não tens tempo para nada, pára de ver televisão e larga o computador. Se continuas à procura do amor da tua vida, pára de procurar, ele aparece quando menos esperares. A vida é simples. Abre a tua mente, braços e coração a coisas e pessoas novas. Vai a uma esplanada, exposição, a um concerto. Tira um postalfree. Experimenta comida exótica. Pergunta à próxima pessoa com que te cruzares qual é o seu sonho e partilha os teus. Viaja muito. Perde-te e encontra-te. Há oportunidades que só surgem uma vez na vida, agarra-as. Vive os teus sonhos. Concretiza os teus desejos, mesmo os mais profundos. Vive as tuas paixões. Só se vive uma vez. A vida é curta"
Postalfree, CCB

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

possibilidades

Um não sei precoce. Uma dúvida acertada. Um talvez porque sim. Um nem sim nem não. Uma possibilidade ignorada. Um simples não saber. Um contraste de dizeres. Uma incoerência entre palavras e actos. Uma questão ignorada. Um não saber gostar. Uma prova cega. Um fechar de olhos antecipado. Um fim incerto. 

N.Vieira

tic tac

Tic. Tac. Tic. Tac. As horas passam. A cozinha parece a mesma. A noite não anda. O silêncio parece ser a companhia ideal. Tic. Tac. Pensa-se. Sente-se. Alivia-se. Tac. Tic.  Não se chega a uma conclusão. Repensa-se. Sente-se o que se quer. Alivia-se o pensamento. Tic. Tac. Tomam-se algumas decisões. Quer-se mudar algo. Tenta-se ver as coisas noutro prisma. Tac. Tic. A noite continua igual, serena e silenciosa. A cozinha continua lá. O pensamento é ajudado. Descansa-se. Tic. Tac. Os olhos não fecham, abrem. O sono foi recuperado. Amanhã há outra noite, outra cozinha, outro sentimento. Agora fica-se no bom silêncio. Tic. Tac. Tic. Tac.

N.Vieira

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

2

Duas almas. Dois corpos. Duas mentes. Dois sentimentos. Duas pessoas. Dois medos. Dois quereres. Duas promessas. Duas eternidades. Dois mundos. Dois poderes. Dois desejos. Dois sentidos. Duas diferenças. Dois pedidos. Dois finais. Dois gostar. Duas vidas. Romeu e Julieta. Dois que na realidade foram um.

N.Vieira

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

the "good" life

"The good life is ever changing, challenging, devoid of regret, intense, creative and risky". Nietzsche
Life isn't easy but that's how is supposed to be. Because once you have a challenge you can't live without the thrill and the adventure. 

domingo, 15 de janeiro de 2012

big audrey

"Living is like tearing through a museum. Not until later do you really start absorbing what you saw, thinking about it, looking it up in a book, and remembering- because you can't take it in all at once"
Audrey Hepburn

sábado, 14 de janeiro de 2012

random

Random talk. Random phrases. Random thoughts. Random dreams. Random feelings. Random believes. Random you's. Random me's. Random lives. Because sometimes is just about being random. And what's random, random it is.

N.Vieira

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

I would be on my feet

"With your face sketched on it twice
Oh you're in my blood like holy wine
You taste so bitter and so sweet

Oh I could drink a case of you darling
Still I'd be on my feet"

Joni Mitchel, the "goddess"

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

peter pan

"Never say goodbye because saying goodbye means going away and going away means forgetting"
Peter Pan, the boy who doesn't grow

tudo parou

O mundo parou. A rua parou. As pessoas pararam. O ruído parou. A casa parou. Eu parei. Por breves momentos gelei. Por breves momentos senti um aperto. Por breves momentos fiquei indefesa. Por breves momentos estava despida de medos. Por breves momentos fiquei sem ter certezas de nada. Sem dar por nada, sem saber. Sem me aperceber continuava ali. Somente sem saber.

N.Vieira

domingo, 8 de janeiro de 2012

esse no meio do peito

Às vezes sinto-o apertado. Às vezes tenho-o bem guardado. Às vezes ele também tem medo. Às vezes a mão quer ajudá-lo. Às vezes ele sente falta. Às vezes ele quer arriscar. Às vezes ele também sofre. Às vezes o que ele quer é difícil de admitir. Às vezes podia ser mais fácil tê-lo aqui, mais perto do pensamento. Às vezes ele próprio também podia ajudar. Às vezes ele fala. Às vezes o que ele quer não pode passar despercebido. Ele, aquele órgão bem frágil, vermelho e pessoal que nos permite viver mas que por vezes também não nos deixa "viver". Esse mesmo... bem aqui no meio do peito.

N.Vieira

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

perphaps

"Perphaps love is the process of gently leading you back to yourself", Antoine de Saint-Exupery.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

"it's like screaming"

"It's like screaming and no one can hear; you almost feel ashamed that someone could be that important; you almost wish that you could have all the bad stuff back, so that you could have the good".
One day someone said it was hard and that if you really wanted something you have to fight for it. Where's that day? Where's that exact moment in the past? Where's that fight?

N.Vieira

e agora?

Um rodopio. Um sopro. Um grito. Um tiro no escuro. Um aperto. Uma satisfação. Uma incerteza. Um medo. Uma vontade. Uma dualidade. Um querer saber. Um simplesmente querer. Um desconforto. Um gostar. Um arriscar. Um respirar ofegante. Uma luta. Um desafio. Uma saudade. Um pensamento. Um sentimento. Uma resistência. Uma possibilidade. Está tudo lá. Está tudo presente. E agora?

N.Vieira

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

porque complicamos?

Fazer de forte? Sim, era o ideal. Para qualquer ser humano. Mas a realidade não é assim. Não aguentamos tudo, não temos forças para tudo. Não conseguimos não dizer a verdade. Não conseguimos não ser nós próprios. Somos transparentes. Temos de dizer o que sentimos. Temos de demonstrar isso, por mais que custe. E custa muito. Não temos de ser fortes. Às vezes é preciso fraquejar. Às vezes sentir-nos perdidos e indefesos faz-nos voltar a pensar. Às vezes é bom simplesmente voltar a sentir. Não se trata de ser forte. Trata-se de sermos nós. Trata-se de dizer o que na verdade sentimos e queremos. Na teoria parece simples, não é? Então porque é que na prática complicamos?

N.Vieira