terça-feira, 23 de outubro de 2012

inspirar/expirar

Tinha o peito cheio de ar.  Cada dia enchia mais. E cada dia ia ficando com menos espaço. Quis deitar tudo fora. Puxou com toda a força. Inspirou contra todas as regras. E depois expirou. Foi contra as expectativas e o ar continuava lá dentro. O alívio era breve. Mas não chegava. Não encontrou a solução ideal. Prometeu a si mesma inspirar e expirar todos os dias. Até que o ar velho saísse e o novo entrasse.

N.Vieira

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

o seu quê de especial

Lábios vermelhos. Unhas encarnadas. Vestido justo. Saltos altos. Mala pequena. Era assim que pensava em si quando se comparava com uma "menina de rua". Fazia-no por breves cinco minutos. Era esse o tempo que se conseguia imaginar na pele dessa personagem. Não o conseguia imaginar por mais tempo. Não por medo, ou por desrespeito. Mas sim porque sabia que não o era. Pensava antes em si como algo simples, normal, mas com o seu quê de especial. Nem ela própria sabia que coisa especial era essa. Acreditava que o tinha porque afinal de contas toda a gente o tem. Todos têm o seu quê de especial que os torna únicos. Alguns têm-no mais visível, outros mais escondido. Há quem goste de o ostentar, e há que tenha medo de o fazer. Até mesmo a "menina de rua" o tem, basta tirar o vestido, o bâton  os saltos e procurar, não na pequena mala, mas naquela grande que reina dentro de si. 

N.Vieira

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

talvez sim, talvez não

Pegou no telemóvel. Escreveu a mensagem. Disse o que sentia, ou o que achava sentir. Deixou crescer algo que não sabia que estava a crescer. Trocou as suas voltas sem dar por isso. Pôs os pés no chão. Tentou assentá-los. Ainda achou que era cedo. Enviou outra mensagem. Deixou a coisa crescer mais um pouco. Não se mediram palavras ou sentimentos. Tudo era sentido a triplicar. A imensidade daquilo era impossível de medir. Mas acabou por assentar os pés. Voltou atrás com a sua palavra. Fingiu apagar o que tinha dito e foi directa ao assunto. "Talvez sim, talvez não... nem sei". Porque é isso mesmo, não tão simples como parece.

N.Vieira